O
Desterro foi cenário dos primeiros momentos da ocupação portuguesa em São Luís.
Caminhando pelas vielas do bairro, é possível encontrar facilmente os traços
colônias que perduram até hoje no local. Apesar de localizar-se no extremo
oposto da cidadela fundada pelos franceses (cercada por muros), o Desterro já
aparece sinalizado na primeira planta da cidade, de 1642, como uma expansão da
área urbana, ligado pela Rua da Palma e outros dois arruamentos. Na planta,
observa-se a presença de uma rua que desemboca no mar, deixando clara a
finalidade portuária na área – que se mantém viva até hoje - e da igreja, que
nesse momento tinha como orago Nossa Senhora do Desterro, invocação muito comum
entre os portugueses que vinham para as colônias. Após sucessivas
reconstruções, a igreja passou a ter como orago São José do Desterro.
Através
da Fundação Municipal de Cultura (Func), a Prefeitura de São Luís realiza todos
os anos a Feira do Livro, que tem como objetivo expandir a cultura literária e
incentivar o hábito da leitura nos cidadãos da capital. Para a campanha de 2014,
o bairro do Desterro foi escolhido como sede da maior festa literária do estado
do Maranhão. Conforme divulgado pela Func, a intenção é fazer algo voltado para
o público infantil. “Este ano, a essência da Feira está voltada ao público
infantil e ao incentivo à produção literária nessa área. Mas não apenas isso: a
feira realizada no Centro Histórico busca provocar a cidade a rever a cidade, a
redescobri-la nas suas lembranças de infância, a fazer uma releitura e ver na
cidade outras possibilidades de encontro e, assim, viver uma nova experiência
de encantamento pela cidade e por sua literatura”, declarou Francisco
Gonçalves.
A
escolha do Desterro como centro principal da Feira do Livro de 2014 não foi por
acaso: o bairro é um dos mais antigos da cidade - um dos onze que compõem o
Centro Histórico de São Luís do Maranhão – e já foi tombado pela Unesco como
patrimônio histórico da humanidade. Através de suas ruas é possível contemplar
um dos principais conjuntos arquitetônicos do Brasil dos séculos XVIII e XIX.
Apesar
de abrigar construções memoráveis e guardar um importante legado histórico,
como a Igreja do Desterro, uma das mais antigas de São Luís, e o Convento das
Mercês, o bairro estava sofrendo uma leve queda em relação ao movimento
turístico no local nos últimos tempos, pois a maioria de turistas e
ludovicenses acabavam se dirigindo somente à Praia Grande, região consolidada
no roteiro turístico de quem visita a cidade. Acredita-se que com os reparos
feitos no local, início das atividades de revitalização do bairro e a chegada
da Feira do Livro, o Desterro receba um fluxo maior de visitantes nos próximos
dias.
A
programação do evento será desenvolvida em seis pontos diferentes da região:
Convento das Mercês, Auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade
Estadual do Maranhão (Uema), Largo da Igreja do Desterro, praça lateral do
Museu do Audiovisual do Maranhão (Mavam), Escola de Música do Bom Menino e
Aliança Francesa. A proposta é fazer que os visitantes do bairro conheçam os
diversos pontos famosos de lá.
Revitalização
Após
enfrentar um longo período de decadência econômica, o bairro do Desterro começa
a receber um processo de revitalização que foi implantado por meio da
Prefeitura de São Luís com o objetivo de restaurar casarões, praças e pontos
notáveis de toda a região do Centro Histórico da cidade. Aos poucos é possível
observar que luminárias e postes estão sendo trocados, que as praças estão mais
limpas e o sistema de policiamento aumentou na região. É elementar que a
preservação de tudo que será restaurado também fica por conta dos moradores do
local, que em sua maioria estão acima dos 40 anos, conforme informou a
Associação dos Moradores do Desterro. O bairro que já foi um dos principais
centros comerciais e também residenciais da de São Luís, agora recebe trabalhos
voltados para a infra-estrutura e até restaurações de casarões coloniais que
estavam em condições de desabamento.
Dono
de um comércio no Desterro, Cláudio Cutrim, que mora no local há 55 anos
comentou: “como habitante daqui, fico feliz por ver essa iniciativa, pois o
bairro ganha uma nova vida e tanto nós moradores quanto os visitantes saem
ganhando. Nós que moramos aqui ganhamos pela maior segurança que o bairro
recebe e pelos lucros que ganhamos através dos negócios que mantemos aqui no
Desterro; e os visitantes colhem os frutos de poder conhecer mais sobre um dos
pontos mais célebres de São Luís”.
O
Desterro recebeu reforço com policiamento especial desde a semana passada e em
alguns pontos estão sendo instaladas novas iluminações para auxiliar na
segurança. “Quem mora no local sabe que estávamos precisando de mais atenção,
pois o legado cultural do nosso bairro estava sendo esquecido, principalmente
pelas próprias pessoas daqui. Pouca gente sabe que saíram grandes artistas, de
diversas áreas, daqui do bairro pro Brasil e pro mundo e muitos dos que passam
por aqui não sabem nem metade das histórias escondidas por trás dos casarões
antigos que ainda estão firmes”, explica o morador e integrante da Associação
de Moradores do Desterro, Guttemberg Santos.
Pedro
Laurindo dos Santos Filho, o famoso “Dotinha” - figura ilustre que é encontrada
constantemente no Desterro e um dos maiores campeões mundiais de dama – sempre
conta histórias míticas do lugar e se demonstra apaixonado pelo bairro,
conhecendo quase todos os moradores.
Com
o início da Feira do Livro, é expectável que bons reflexos apareçam no
Desterro, e no momento certo, pois o bairro vivia à margem de todo o processo
de melhoria do Centro Histórico e ainda não havia recebido a devida atenção. Um
bairro que emana cultura e dissemina a história de São Luís por intermédio de
suas marcas e pontos históricos, azulejos e fechadas de casarões centenários,
deve ser tratado com atenção e nunca submetido ao abandono.
Fonte: Jornal Cazumbá
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